domingo, 21 de julho de 2013

Closer

Devo alertar que o vídeo abaixo tem imagens que não são propriamente adequadas para ver em ambientes laborais e afins. 







Sim, esta é uma música sobre sexo, puro e duro. Não há espaço para grandes subtilezas e duplos sentidos, para suposições e conjecturas. Onde é que isso tem sentido numa letra com versos como estes?



You let me violate you
You let me desecrate you
You let me penetrate you
You let me complicate you


(...)

I wanna fuck you like an animal
I wanna feel you from the inside
I wanna fuck you like an animal





É uma música que deve ser entendida no contexto do álbum em que está inserida: "The Downward Spiral" dos Nine Inch Nails (que já referi aqui), álbum esse que gira à volta do conceito da espiral descendente de alguém até chegar a um ponto extremo. O próprio Trent Reznor teve vários problemas relacionados com drogas e álcool que incluíram uma overdose
Há uma entrevista feita em 2005, quando o vocalista já estava sóbrio, que ajuda a perceber todo o estado de espírito dele e como isso se reflectiu no seu trabalho:


What was it like going into the studio sober?
TR: When I started "With Teeth", it was like, suddenly I could think again. A lot of the fear I had went back to "The Fragile". I was on the slippery slope of trying to stay sober, knowing I had a problem but not wanting to accept it, being fucked up, lying to myself and others. Just caught in the fucking downward spiral.
I can't believe I just said that [laughs].
Anyway, at that point, I would try to write and it'd be a blank notebook. And that's a bad feeling. So when I cleaned up, I felt like I had superpowers.

What was the fear, exactly?
TR: Fear in my thinking that I'm not good enough. Of my not living up to my own expectations because, believe me, they're much higher than those of my fans.

One would think that after selling a couple million copies of "Pretty Hate Machine" and "The Downward Spiral", you'd feel pretty good about yourself.
TR: When it's coming from outside like that, it doesn't sink in. I've always been insecure. I always felt like an outsider and I wanted to be acknowledged. I came from a little shit town that nobody ever got out of. I wanted to say, "Fuck you. I can get out." I think back to my strategy of life when I was 23 and I started Nine Inch Nails. It was: Get a record deal and write good music, and everything will be okay.
Fine. I got a record deal, I think I wrote good music. And then I got a lot of things I never thought I'd get: Success, money, critical acclaim. I sold a lot of tickets to the shows, I earned multi-Platinum records and Grammies and blah, blah, blah. But at the end of the day, that didn't really fix anything, and it feels really shitty when you tell yourself that. What have I got to be upset about? I've got everything I've ever dreamed of, but I still feel shitty. So what now?

Is that where the addiction came in?

TR: I'm an addict and that would have come out no matter what I was doing. But this lifestyle definitely accelerated it. Being thrust into this role of being successful all my fears became amplified.


Este é um álbum que fala de (e transpira) angústia, sentimentos de inferioridade, infelicidade, vazio, medo, desespero... A "Closer" nunca poderia ser, somente, uma música sobre sexo sem mais. É algo que vai muito para além disso na minha opinião.


(Help me...)
I broke apart my insides
(Help me...)
I've got no soul to sell
(Help me...)
The only thing that works for me
Help me get away from myself



O que está na génese de certos vícios e compulsões? Álcool, droga, jogo, sexo, comida...? Julgo que seja a necessidade de evasão de si próprio. A procura de algo exterior que preencha um vazio de tal forma pronunciado que se torna impossível tolerar e aguentar. Mais que isso, está relacionado com a dimensão espiritual de cada um que não se confunde com religião pois esta é somente uma manifestação da espiritualidade, algo muito mais abrangente e que diz respeito a cada um e à forma como escolhe olhar para dentro, para quem é e o lugar que ocupa no esquema maior de todas as coisas. No fundo, qual o significado e sentido que escolhe dar à vida. Isso é algo absolutamente pessoal, onde não há lugar para dogmas e onde cada um terá a liberdade de encontrar "aquilo" que molda a vontade de estar vivo. 

Então o que acontece quando há uma total ausência de ligação a algo tão intrinsecamente nosso? Quando se está de tal forma desconectado dessa dimensão interior e do mundo que nos rodeia? Quando há uma incapacidade de estar genuinamente vivoQuando alguém procura fugir a todo o custo de si próprio? Quando o conceito de amor próprio está completamente ausente? Quando, como no caso do Trent Reznor, o dinheiro, a fama e o sucesso não são suficientes? 
Percebo que seja aí que entram em cena os escapes: álcool, sexo, drogas etc. 



My whole existence is flawed
You get me closer to god

You can have my isolation
You can have the hate that it brings
You can have my absence of faith
You can have my everything



A compulsão sexual será um pouco diferente do vício das drogas e do álcool (até porque os segundos são dependências químicas e que não são necessárias para se ter um estilo de vida saudável) mas os sentimentos que estão na origem destes comportamentos são iguais: uma auto-aversão gritante, o impulso de autodestruição, a vontade de se ser tudo menos a pessoa que se é. Tanto a droga, o álcool, como o sexo (enquanto comportamento obsessivo) cumprem sempre o que prometem: aquela sensação de satisfação e eliminação de toda a dor. Mas é sempre momentâneo, a raiz do problema continua lá. Daí a dificuldade em terminar esse ciclo vicioso.


You make me perfect
Help me become somebody else 




Há um filme de 2011, "Shame", que consegue ilustrar bem o que será viver com uma compulsão destas. O Michael Fassbender veste a pele de um homem que não consegue ter uma relação funcional e saudável com outro ser humano, que desconhece por completo o conceito de intimidade e demonstra como o sexo é ao mesmo tempo a sua desgraça e salvação. Esta música de Nine Inch Nails casa na perfeição com essa personagem.



sábado, 6 de julho de 2013

Tempo de antena

Este post surge como o desenvolvimento de uma troca de ideias e opiniões sobre a situação do país e os meus dois centavos sobre o assunto. 
Eu não me identifico com nenhum partido político e acredito que a democracia apesar de estar muito longe de ser perfeita, é o menor dos males. 

Na minha forma de ver as coisas, tudo o que estamos a viver reporta-se a um problema muito mais profundo e demasiado enraizado na sociedade.
Acho que o modelo de ensino (em geral, não só em Portugal) não prepara as pessoas para terem um verdadeiro sentido cívico, para sentirem que lhes cabe um papel muito específico quando vivem em sociedade. Acho que não as prepara para a necessidade de terem um espírito crítico, para fazerem as questões correctas. E qual a razão para essa negligência? Porque isso é verdadeiramente perigoso e ameaça o status quo. Há um interesse em que as coisas se mantenham na mesma porque dessa forma quem está no poder não o vê ameaçado. 
  
Por que razão não se cria nas crianças a vontade (e necessidade) de pensarem por si próprias sobre todo o tipo de coisas? Que tal incentivar-se o estudo de obras como o "1984", "Animal Farm" ou o "Brave New World" na escola, por exemplo? Ensinar-se que temos de questionar absolutamente tudo o que nos é dado? Sensibilizar-se as pessoas para se questionarem de onde vem a informação? Quem a dá e em que condições? Quais os interesses por trás de certos meios de comunicação? A quem serve esse tipo de informação?...

Sinto que isto não tem de partir só de mudanças por parte de quem está na política, tem de partir da sociedade. Tem de haver interesse em preparar as pessoas para estarem informadas e munidas do máximo de factos. Esta é uma sociedade cada vez mais imersa em inutilidades, contra-informação, superficialismo. Não admira que sejam sempre os mesmos no poder e que o objectivo seja sempre o interesse próprio em vez do interesse da comunidade. Acho que enquanto não houver uma mudança muito séria na mentalidade, na consciência colectiva, vai manter-se tudo na mesma.

Este blog não tem um objectivo definido. É um sítio onde dou por mim a partilhar coisas que gosto e reflexões sobre assuntos que têm importância para mim. Sei que não tem uma projecção significativa na imensidão de conteúdos da internet mas numa era em que temos acesso a tanta informação, em que podemos comunicar uns com os outros de variadíssimas formas, é um desperdício não usarmos isso em nosso benefício. Tem é de haver interesse nisso, tem de partir de cada um a intenção de educar-se e partilhar isso com os outros. 

Sou idealista e, pior, irrealista nos meus pensamentos? Muito provavelmente isso irá transparecer mas a realidade é que eu sei que isto não são coisas que se obtêm de um dia para o outro. Acho que tem de se tentar, tem de haver pelo menos uma tentativa de encontrar algum caminho.
A mudança de mentalidades leva o seu tempo mas tem de se começar por algum lado e esta altura em que vivemos pode muito bem ser a altura ideal. 

Sei que é um longo caminho mas encoraja-me saber que conheço várias pessoas que pensam da mesma forma ou de forma similar à minha e isso pode ser o início de algum tipo de alteração deste estado de coisas. A resposta tem de estar bem para lá da escolha óbvia entre este ou aquele partido, nenhum deles tem um interesse claro em melhorar a vida de cada um de nós. Estas trocas de cadeiras no poder entre PS à esquerda e PSD/CDS à direita não são a solução, tem de haver uma alteração verdadeiramente significativa e de fundo e nós temos responsabilidade nisso.