Era um peso e era uma bênção, em igual medida. Era como uma bússola, a única forma de se orientar no mundo, na vida. Guiava todos os passos, decisões, intuições... Tinha sido sempre assim.
Se eu olhasse com muita atenção, conseguia ver que mal cabia. O coração dele era grande demais para aquele peito onde batia. O corpo acabava por se ressentir, trabalhava incessantemente para acompanhar aquele batimento, completamente distinto de qualquer outro. E tudo o que vinha de fora consumia-o. O centro de tudo estava ali, num peito pequeno para a imensidão do órgão que batia lá dentro. E cada vez que batia ressoava cá fora, dava para ouvir.
Viver nunca poderia ser uma experiência tranquila, serena, uma linha constante. Viver seria ir atrás dos desígnios, dos caprichos, dos desejos. Seria ir do céu ao inferno numa amplitude de sentimentos infindável, ver a luz mais intensa e a escuridão mais profunda, sentir todas as dores e todas as alegrias, ouvir música no maior dos silêncios, ver cores que nem sequer existem.
Sim, era um coração pesado, que tinha vontade própria, que teimava em não recear coisa alguma mas era também um coração maior que tudo, maior que a própria vida. É óbvio que não cabia e nunca iria caber. Era inteiro e feito para não se conformar, batia com intenção e com o propósito de fazer eco. Seguia ao ritmo da maior verdade de todas.
Em verdade, não era ele que era demasiado grande. O mundo é que era infinitamente pequeno.
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