domingo, 13 de janeiro de 2013

Forty Six & 2

A "Forty Six & 2" é mais uma música do álbum "Ænima". Álbum esse sobre evolução e mudança (como já tinha referido a propósito da "Stinkfist"). Mas tratando-se dos Tool, há um mundo por trás desses conceitos...

O título baseia-se em teorias bastante complexas de Drunvalo Melchizedek e Bob Frissell sobre o número de cromossomas existentes no ser humano. De acordo com uma entrevista feita ao primeiro:

There are three totally different kinds of humans on the Earth, meaning that they perceive the One reality in three different ways, interpreted differently. The first kind of human has a chromosome composition of 42+2. They comprise a unity consciousness that does not see anything outside themselves as being separate from themselves. To them, there is only one energy - one life, one beingness that moves everywhere. Anything happening anywhere is within them, as well. They are like cells in the body. They are all connected to a single consciousness that moves through all of them. These are the aboriginals in Australia. There might be a few African tribes left like this. Then, there is our level, comprising 44+2 chromosomes. We are a disharmonic level of consciousness that is used as a steppingstone from the 42+2 level to the next level, 46+2...These two additional chromosomes change everything.

Na minha forma de ver, não é para ser levado à letra. Prefiro abstrair-me da parte metafísica da teoria porque me causa sérias dúvidas. 
Quanto à parte científica, ao que parece também é criticada tendo em conta que o incremento de material genético não significa necessariamente um organismo mais avançado. Inclusive há animais irracionais com mais cromossomas que os humanos por exemplo.
Então qual é o simbolismo de 46+2 na música? Julgo que o único propósito será o de ilustrar a ideia de progressão e, nesse sentido, funciona muito bem.

Existe depois uma outra ideia (e esta sim fascina-me bastante) que pega 
num dos arquétipos de Carl Jung: a Sombra. 
Em termos simples (precisamente porque não tenho conhecimentos académicos sobre o assunto, só o que li em vários sites sobre o autor e sobre Psicologia), a Sombra representa tudo o que receamos e desprezamos em nós, inconscientemente. Fraquezas, falhas, defeitos. Jung dizia que quanto mais em negação se estiver, mais densa e negra essa Sombra será. 
A ideia que a sociedade nos passa que há certos sentimentos/atitudes demasiado negativos para existirem em nós, leva a essa repressão. O seu reconhecimento a um nível plenamente consciente é deveras difícil porque somos ensinados desde crianças que não é aceitável. 

Escolher mergulhar na nossa própria negatividade e enfrentar os nossos maiores medos sobre quem somos ou ignorar essa parte porque é demasiado?

Todos temos escuridão em nós, não vale a pena questionar isso. Por melhores pessoas que queiramos ser, por mais tolerantes e abertos, há partes de nós difíceis de lidar. E não estou a falar de defeitos que reconhecemos com maior ou menor dificuldade, estou a falar de algo muito mais profundo. Reacções emocionais muito fortes a certas coisas ou pessoas, reacções viscerais e impulsivas. Reflexos do inconsciente por oposição a comportamentos intencionais. 

O resultado de tudo isto é a forma como depois passamos esse tipo de atitudes para o mundo. Como reagimos em relação a certas situações... O mais interessante é que Jung defendia que essas tais reacções emocionais partem precisamente da nossa falha em reconhecer defeitos em nós mesmos. No fundo, reagimos a coisas que reflectem o que já existe em nós e fazemos isso de forma inconsciente. Não é fácil digerir isto porque estamos no fundo a criticar nos outros algo nosso também... Fazemos coisas nas nossas próprias costas:




De que serve então rejeitar a Sombra? Ela faz parte da nossa identidade, a única saída será reconhecê-la de forma consciente. Aceitar que faz parte de nós enquanto pessoas. Segundo Jung, dessa forma já não há a projecção da nossa Sombra nas coisas que nos rodeiam e mais importante, nas outras pessoas.

Obviamente que será um processo muito complicado e em toda esta ideia tenho dificuldade em perceber, concretamente, de que forma é que algo tão enterrado no subconsciente pode vir à superfície e como aceitar absolutamente tudo o que somos. 
Honestamente, é assustador pensar em todas as implicações que traz mas ao mesmo tempo também é libertador imaginar que é possível viver com isso de uma forma consciente e consequentemente mais plena. 

É precisamente disso tudo que fala a "Forty Six & 2". 






Mesmo quem não concorde de todo com esta teoria de Carl Jung ou tenha dificuldade em percebê-la, consegue ficar com a ideia principal da música: tudo o que sirva para nos fazer evoluir, tudo o que nos faça sentir que existe essa possibilidade, é tudo válido. O que interessa é fazê-lo. Somos todos tábuas rasas quando nascemos, cabe-nos ir enchendo e preenchendo essa tábua ao longo da vida, o melhor que conseguirmos.  


E o baixo desta música é qualquer coisa de fenomenal!...


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Hurt


A "Hurt" dos Nine Inch Nails é uma música daquelas. 
É a última música do álbum conceptual "The Downward Spiral" de 1994 que retrata a espiral descendente de alguém até chegar ao ponto de tentar o suicídio.
Gosto bastante da música, acho que não passa indiferente a ninguém.  


                               


Mas depois o Johnny Cash pegou nela e levou-a a uma dimensão completamente diferente. 
A música é a mesma, a letra é praticamente a mesma mas o sentimento é inteiramente outro. 




Tocante é dizer muito pouco... 
O Johnny Cash estava bastante debilitado na altura e viria a falecer poucos meses depois do vídeo ter sido feito. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Boss

Agora que já acabou 2012, devo um post à pessoa que mais me marcou no ano que passou. Alguém que não faz a mínima ideia nem nunca vai saber. Alguém que já mudou a vida de milhares de pessoas, certamente. Estou a falar do Bruce Springsteen.

É engraçado ver a cara de algumas pessoas quando por acaso estamos a falar de música, concertos e afins e eu digo que o meu concerto preferido de 2012 foi o do Bruce Springsteen (e E Street Band) no Rock in Rio. Acho gira a reacção de quem não foi e tal como eu, até ali, nunca lhes tinha prestado grande  atenção (aquele misto de: "hum... tens a certeza?" e "se calhar não viste muita coisa este ano..."). Antes desse concerto eu pensava exactamente da mesma maneira.
Não é que eu tivesse alguma coisa contra ele(s) ou não suportasse a música mas não percebia qual o interesse. Não me conseguia identificar com um cota de 60 e tal anos que cantava sobre a classe operária/trabalhadora americana, sobre New Jersey e pelo meio provavelmente outras coisas que não me interessavam por aí além. Achava que não seria o tipo de artista que poderia acrescentar algo à minha vida. Ah! A ironia…

Acabei por decidir ir por curiosidade, um ou dois dias antes. Várias pessoas, amigos e conhecidos, influenciaram-me nesse sentido (e ainda bem).
Para quem não esteve lá ou não aprecia, sei que tudo o que vou escrever daqui para a frente vai parecer exagerado mas é autêntico. 
Nos primeiros momentos do concerto eu já estava completamente rendida, convencida, tudo. E na “Twist and Shout”, já mesmo no final, com o fogo de artifício e no meio de milhares de pessoas, ao ver a cara de felicidade em todas, ao ver o êxtase dos meus amigos, ao sentir o meu, a minha vida não poderia voltar a ser a mesma. O que sabia é que tinha acabado de ver mais que um concerto, muito mais que isso. Faltava era perceber em que medida tinha sido alterada a minha percepção da vida.

 No documentário The Promise: The Making of "Darkness on the Edge of Town" há uma parte em que a Patti Scialfa (da E Street Band e patroa do Boss) diz que a primeira vez que os viu ao vivo ficou chocada porque estava num sítio com milhares de pessoas e no entanto cada uma delas estava a ter uma experiência extremamente pessoal com tudo o que se estava a passar. Concordo em absoluto com ela.
Noutro momento do documentário, o Bruce diz que os concertos, a experiência de cada actuação ao vivo é algo que surge do nada. Não existe absolutamente nada naquele espaço e tempo até ao exacto momento em é tocado o primeiro acorde e de repente a banda e o público partilham algo que se manifesta num mundo completamente aparte, um conjunto de valores, uma forma inteiramente nova de pensar sobre a vida e o mundo à nossa volta. Todo um mundo de possibilidades e essa vivência nunca poderá ser subtraída a quem ali esteve.

Já vi muita coisa ao vivo. Concertos incríveis, inesquecíveis, inacreditáveis, emocionantes, interessantes, comoventes, arrebatadores, aborrecidos, fracos... Mas depois há uma categoria de concertos de uma vida. Daqueles que me marcaram profundamente: Pearl Jam a 4 de Setembro de 2006 e Dave Matthews Band em 2009. A esses juntei este concerto do Bruce Springsteen. É dizer muito, até porque eu já gostava bastante quer de Pearl Jam (não tanto quanto passei a gostar depois de 2006) quer de Dave M. Band antes de os ver ao vivo.

Há alturas em que sinto que gostava de ter começado a ouvi-lo há mais tempo mas os últimos seis meses da minha vida mostram-me que, pelos vistos, era mesmo suposto ser assim. Foi na altura em que eu mais precisava dele.
Como dizia acima, eu sabia que algo tinha mudado naquela noite. 
Quis descobrir o máximo que podia sobre este homem, sobre a sua música (algumas coisas descobri sozinha e em relação a outras tive a sorte de me deparar com este blog)
Isso coincidiu (será que há mesmo coincidências?...) com uma altura em que me comecei a aperceber de muita coisa em mim e à minha volta.
Tenho tido uma sorte incrível na vida, tenho pessoas maravilhosas comigo, vivências e experiências que me têm enriquecido enormemente como pessoa. Algumas tornaram-me mais flexível e outras tornaram-me mais dura. Isto de ser adulto tem coisas complicadas, é difícil de navegar por vezes, é um território desconhecido, inóspito, hostil até... Em muitas coisas, não é o que eu tinha sonhado ou idealizado. Não fazia parte dos meus planos mas é mesmo assim e cada um há-de perceber para si o que fazer com isso.
A vida não vai ser nunca absolutamente tudo o que queremos senão que há para aprender? Às vezes temos de largar a visão que tínhamos do que é suposto sermos ou fazermos e deixar a vida acontecer. E isso não significa deixar de participar, de intervir no nosso destino. Significa apenas deixar de lado o ressentimento quando os planos têm de ser alterados ou ajustados. Conjugar o que queremos com o que tem de ser feito.
Chego ao início deste ano com a percepção que o que mais quero em 2013 é continuar a descobrir o que houver para descobrir e pelo caminho, viver.

E o que é que o Bruce tem propriamente a ver com isso? Muito mesmo. Apercebo-me quando o ouço que não estou sozinha, algures lá atrás ele teve dúvidas e dores de crescimento iguais às minhas. Apercebo-me o quanto ele pode enriquecer a minha vida com a música dele, com a mensagem dele.

As a songwiter I always felt one of my jobs was to face the questions that evolve out of my music and search for the answers as best as I could find. For me, the primary questions I’d be writing about for the rest of my work life first took form in the songs on “Born To Run” (…). It was the album where I left behind my adolescent definitions of love and freedom.
“Born To Run” was the dividing line.

Este é um homem que procura no mais fundo dele e faz música com isso. Acerta-nos em cheio porque está a escrever sobre nós, afinal. A verdade dele é a de muitos de nós. E a verdade não é bonita mas é por ela que estamos , na minha forma de ver.  Ele é honesto com a arte dele, faz questão disso. Tem uma visão e quer sempre passá-la para música que faz. 

Most of my writing is emotionally autobiographical. You’ve got to pull up the things that mean something to you in order for them to mean anything to your audience. That’s how they know you’re not kidding.
With the record’s final verse, “Tonight I’ll be on that hill…” my characters stand unsure of their fate, but dug in and committed. By the end of “Darkness”, I’d found my adult voice.

Este post faz ainda mais sentido hoje. No dia em que estou um ano mais velha e continuo a descobrir a minha adult voice.