sexta-feira, 1 de maio de 2009

Era a forma como ele lhe estendia a mão a convidar a dela sempre que iam para algum lado. Invariavelmente. Levantava-se, ficava um ou dois passos à frente dela, olhava-a e estendia-lhe a mão. Aqueles cinco, seis segundos em que ela fazia por hesitar, era o ritual deles.

Isto dir-me-ia ela, meses depois. Não havia contacto visual entre nós, eu estava deitada no sofá, com os olhos semi-cerrados, sonolenta e ela estava à janela a fumar. Era Verão, lembro-me. Sempre achei curioso a maneira que encontrava de me dizer que gostava de alguém. Nunca articulava o sentimento. Só nestes momentos é que me dava conta. É que percebia o quanto aquela pessoa que lhe estendia a mão daquela maneira tinha realmente significado.

'Aqueles cinco, seis segundos eram a minha morte'. Eu conseguia sentir o sorriso dela a dizer aquilo, pela voz. Ele sabia que era a forma dela se defender e o quanto ilustrava a importância do que nunca era dito entre os dois. Ele respeitava isso e pedia-lhe sempre permissão para entrar, todas as vezes que repetia aquele gesto.

Eu ouvi-a. Sabia que esta era a primeira e última vez que me falaria dele. Olhei por cima do braço do sofá e vi-a de costas, a acabar o cigarro. O meu silêncio estava cá para ela.

4 comentários:

  1. Mas que bom regresso à blogosfera! ;)

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  2. :)))

    já tinha teias de aranha isto lol *

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  3. "Sabia que esta era a primeira e última vez que me falaria dele."

    Terá sido mesmo a "ultima vez"?

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  4. talvez sim, talvez não... quando escrevi, terminou dessa forma ;)

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